17.1.13

Vizinhas

(…) agora todas estas vizinhas experimentavam por ele um curioso sentimento, que, no fundo, as irritava um pouco e as fazia sorrir, às escondidas, especialmente quando o viam, atrapalhado ou acanhado, defender-se ainda e subtrair-se a pequenas e inocentes atenções que tinham com ele, visto saberem-no só e desamparado. Não havia, naquele sentimento, nem um vislumbre de desprezo. Estavam, pelo contrário, dispostas e reconhecer-lhe uma certa astúcia por ele ter demonstrado compreender o que de costume a amável estupidez dos homens não percebe: que o que elas dão e que para os homens é muito (…), para elas é menos que nada, é até o seu próprio prazer. Ora, não ter querido este prazer, para não o dar às mulheres, pagando-o como todos os homens o pagam, aos olhos delas afigurava.se, no fundo, como acção de pessoa muito esperta; e sentiam satisfação em mostrar-lhe que, apesar disso, estavam prontas a servi-lo alegremente, embora nunca tivessem obtido nada dele.

[Pirandello, «Pensão Vitalícia», 1915]