20.3.13

Roth aos oitenta



A escrever sobre o umbigo desde 1959. O dele e o delas. Deus o guarde.

18.3.13

Jason Molina 1973-2013

Morreu, alcoólico e sem seguro de saúde, aos 39 anos, apenas com um telemóvel e nenhum dinheiro no bolso. Em nome próprio, ou com as designações Songs: Ohia ou Magnolia Electric Co., Jason Molina deixou-nos um vastíssimo catálogo de canções desoladas, vindas da América profunda e de outras profundezas, cantadas com uma intensidade preocupante, em convívio corajoso e insensato com os fantasmas. Tive poucos amigos tão fiéis. Nunca tive um amigo tão triste.

11.3.13

Um mais devagar















Ele está a ver um jogo na televisão e a mulher pergunta-lhe: «Who's winning?». Ele responde: «Nobody. One side is just losing slower than the other». É triste pensar que essa é a grande diferença entre nós os dois.

[Gene Hackman em Night Moves (1975), de Arthur Penn]

10.3.13

Divórcio

«Just went on, my body doing its best without me». Ou eu sem ele, neste caso.

4.3.13

Troika

Ao meu lado, no restaurante, um casal de namorados discute. Um é pró-Troika, outra anti-Troika. Ele diz: «Foi por causa de pessoas que pensam como tu que chegámos a esta situação». Eu também já disse isto, e não estava a discutir a Troika.

1.3.13

Ratzinger

O Papa que tantos consideravam como «retrógrado» fez um gesto «revolucionário»: foi-se embora. E assim «laicizou» o papado, mostrando-o falível e exposto às fraquezas humanas: as da velhice e da saúde, naturalmente, mas também as das manigâncias vaticanas, que nos últimos anos têm andado bastante mafiosas. Admirei em Bento XVI a certeza serena, o carisma «não-carismático» do intelectual, a sofisticação teológica, o diálogo com a cultura contemporânea, uma «ética da resistência» doseada sem excessos. Ratzinger abandonou o zelo oficialista que o notabilizou enquanto cardeal (e que eu temia que fizesse estragos), dignificou e densificou o cargo e não cometeu nenhum erro de monta, excepto alguns deslizes mediáticos. É certo que não foi capaz de extirpar a podridão dos corredores romanos, mas não tinha idade nem vocação para essa tarefa. Ficará na História como a figura central do catolicismo pós-Concílio, até porque já tinha sido o «ideólogo» de João Paulo II. Do Conclave espero que saia agora um Papa que com urgência reforme radicalmente a Cúria e estabeleça uma efectiva tolerância zero efectiva em matéria de pedofilia. Um Papa que responda aos desafios duradouros como a globalização, a laicização, a bioética. E que não deteste o mundo, que não governe por sondagem, que respeite a consciência individual, que esteja do lado de quem sofre e que acredite no Credo.