6.5.14

Os quatro grandes

A minha primeira coluna no novo Expresso diário [requer registo prévio].

Dificilmente se encontra uma nação europeia com um historial mais trágico do que a Polónia, país invadido, ocupado e oprimido por diferentes potências, dos exércitos napoleónicos aos nazis e aos comunistas. E, no entanto, uma característica notória de alguma poesia polaca, aliás uma das mais vigorosas do Leste, é o seu humor. Um humor centro-europeu, escuro e insólito. 
Dos chamados «quatro grandes» da poesia polaca do pós-guerra, só Czeslaw Milosz não pode ser identificado com uma poética de cunho irónico, dado a sua inclinação católico-meditativa; em contrapartida, Wislawa Szymborska construía os poemas como silogismos facetos; e Zbigniew Herbert inventou uma personagem poética, o Senhor Cogito, que funcionava como voz cómico-especulativa. O quarto dos grandes, e o último a deixar-nos, chamava-se Tadeusz Rózewicz, e era conhecido pelo gosto de despoetizar o poético, como se o poema não devesse viver acima das suas possibilidades retóricas e metafísicas, e fosse afinal um artefacto quotidiano, entendível, inquisitivo, memorável. (...)