24.6.14

Uma questão crítica

A minha oitava coluna no Expresso diário [requer registo prévio].

Há uns meses, na «New Yorker», Lee Siegel (de quem li uma excelente colectânea de textos sobre televisão e uma jeremiada contra a tecnologia) anunciou que ia «enterrar o machado», quer dizer, que abandonava a «crítica negativa» que praticou com tanto empenho.

Siegel aproveitou essa confissão para responder ao australiano expatriado Clive James (um crítico erudito e mordaz). James tinha escrito um artigo dizendo que em Inglaterra as recensões eram, e ainda bem, muito «críticas», ou sejam, arrasadoras («hatchet jobs», como se diz em inglês), ao passo que os «reviewers» americanos se mostravam demasiado polidos, cautelosos, timoratos.

Siegel contesta essa ideia, citando exemplos de diferentes décadas. Dos críticos (não apenas literários) que invoca, conheço um pouco ou bastante bem os clássicos Dwight Macdonald, Pauline Kael, Mary McCarthy e Elizabeth Hardwick, gente bastante difícil de agradar, bem como uns quantos vivos, o rezingão John Simon, a ferina Renata Adler e o arrasador Dale Peck. Este último, autor de uma divertidíssima compilação de críticas negativas chamada justamente «Hatchet Jobs» (2004), esventrou com gosto vários contemporâneos, e até aparecia na capa da edição americana com um machado às costas. (...)