22.7.14

O banqueiro anarquista

(...) O argumentário é engenhoso: o banqueiro procura libertar-se das ficções sociais, mas libertar-se individualmente, lembrando que a acção em grupo, a acção revolucionária, cria novas ficções, e portanto novos despotismos (facto facilmente verificável). Este anarquista do «cada um por si» diz que devemos destruir as desigualdades sociais, mas justifica as desigualdades a que chama «naturais», como a diferente inteligência ou habilidade. E esclarece que o egoísmo também é «natural», ao passo que as ideias de «dever» e de «altruísmo» são artificiais. O banqueiro liberta os outros libertando-se a si mesmo, procurando uma compensação pessoal para o seu combate, como se fosse um misto de Kropotkine e Ayn Rand.

O facto de os banqueiros portugueses parecerem apostados em desacreditar a banca sugere às vezes uma estratégia anarquista. Não é decerto um complô organizado, mas talvez seja um choque de vontades individuais, de egos individuais, que produz um resultado objectivo, que é o descrédito de quem nos deu crédito, de quem mereceu o nosso crédito. (...)


[no Expresso diário]