8.9.14

Da igualdade



Além de ser um bom falso documentário e um curioso documento sobre o sangue e a piedade, Mistaken for Strangers (2013) é uma bofetada nas teorias da igualdade. Dois homens, quase da mesma idade, com os mesmos pais e a mesma educação, chegam a vidas opostas. Um deles, o mais velho, é atraente, carismático, talentoso e bem-sucedido; o mais novo é feio, irresponsável, preguiçoso e fracassado. Matt Berninger, o vocalista dos National, deixa que o irmão, Tom Berninger, acompanhe a banda em digressão, e até que os filme e entreviste. Para que Tom tenha um emprego, saia de casa, seja um homenzinho. Mas Tom é uma desgraça ambulante, e o documentário é basicamente sobre ele ser uma desgraça. Tom e Matt compreendem a dialéctica daquele projecto melindroso, paternalista, às vezes patético. E ambos ensaiam a reversibilidade das situações, a hipótese de ter acontecido tudo ao contrário. Talvez as coisas pudessem ter sucedido de forma diferente, de facto. Mas Tom sempre soube que Matt é que estava votado ao triunfo, sempre se soube desigual a ele, com a crueldade das evidências infantis, ou genéticas.