16.2.15

Avisado em sonhos

Lembro-me de José, «avisado em sonhos», escapando à mortandade dos primogénitos. Eu nunca fui avisado em sonhos, os meus sonhos são caóticos ou selvagens, mas já fui «avisado em insónias», insónias de que sofro muito raramente, e que quando acontecem me obrigam a pensar em certas coisas durante horas, pensar sem conseguir fugir, sem distracções, horas em que me apercebo de tudo, em que vejo claramente, tão claramente como quando contamos a nossa vida a terceiros e o que dizemos faz um sentido que nos surpreende mais a nós do que a eles. Avisado em insónias, compreendi o que estava mesmo à minha frente, aquilo a que quis fugir de noite ou durante o dia, mas que a vigília involuntária, inclemente, não permite. Avisa-nos em sonhos, e é talvez por bem que nos faz mal.