16.2.15

Consultas

À minha frente no comboio, um conhecido treinador fala ao telefone. O tom é de entrevista, e não tanto de conversa, ou então de conferência, daquelas «motivacionais». Ele usa dezenas de vezes a palavra «confiança», o colectivo «confiante», os jogadores «confiantes», a «confiança» no grupo de trabalho, a «auto-confiança». Como se o futebol fosse apenas um jogo anímico. Atrás de mim no comboio, um médico, ao telemóvel, devolve várias chamadas. A maioria dos seus doentes, a julgar pelas respostas, queixa-se de coisas trivialíssimas, pingos no nariz e assim, e o médico vai dando conselhos sobre essas ínfimas e às vezes ridículas maleitas. Depois, liga à família de um doente mais problemático, deduzo pelo tom de voz. Dizem-lhe que o doente morreu.