11.3.15

Malparado

Malparado 2012-2015.

Indesculpável

Por vezes, damos de caras com o indesculpável. Por vezes, somos nós o indesculpável.

Cães presos

É possível que este cão preso ladre
às estrelas que o aturdem como se fossem sinais
e que esteja a uivar a quem o deixou de vigia
a ninguém, numa casa abandonada.

Os vizinhos queixam-se porque não conseguem dormir,
ouvir telefonia ou lavar os automóveis.

Enquanto isso eu imagino que ele tem caninos azuis
como o amor ou a morte, e imagino-o altivo
como alguns homens, como tantos cães.

Porque o seu ruido tem algo de delicada insensatez
e de agonia, e esse som acompanha-me e persegue-me.
Porque o seu latido impõe-se sobre as vozes
desafinadas e rançosas das pessoas
misturadas como no fundo de uma panela.

E porque é possível que eu esteja preso também,
mas sem convicção para ladrar e uivar
agora que sinto finalmente que me deixaram sozinho
vigiando uma luz quase desabitada.


[Néstor Mux, n. 1945, Argentina, versão PM]

2.3.15

Um ritmo binário

Lembrei-me da expressão de Proust: «(...) ce rythme binaire qu'adopte l'amour chez tous ceux qui doutent trop d'eux-memes (...)». Mas como impedir esse «ritmo binário» sem acabar inadvertidamente com todo e qualquer ritmo, como se fosse um motor desmontado por um inábil?

1.3.15

Rios de sugestão



These rivers of suggestion are driving me away
The ocean sang, the conversation's dimmed

Lugar

Há quem se ponha no meu lugar. E quem me diga: «põe-te no teu lugar».

Roman / romain